quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Indio Poti não resiste

Indio Poti já é rei, mas gosta de se meter em política. Há meses acompanha o processo eleitoral de um país vizinho tido, até pouco, como exemplo. Explica-se. Neste país - sempre pintado de verde nos mapas - podia-se roubar a vontade, mas havia pudor. A melhor sacanagem para Indio Poti era fingir o pudor. Nada o deixava tão louco.

Pois bem, os últimos mensageiros que chegaram com notícias informaram que o pudor havia morrido no país verde. Indio Poti preocupado com a onda, que podia criar moda, decidiu intervir. Mandou guerreiros para as fronteiras e prometeu guerra caso o governo não conseguisse eleger a candidata oficial.

Uma tal organização das nações unidas entrou no cenário, a imprensa mundial cobriu o fato e a candidata do governo perdeu fragorosamente. Indio Poti, satisfeito, voltou à sua rede. Indio Poti dormiu com o poder, certo de que o pudor continuaria vivo.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Indio Poti e a marcenaria

Índio Poti é rei e marceneiro. Aprendeu a fazer as coisas na própria casa. No último momento de ócio que teve, decidiu que melhoraria algumas coisas e que empenharia toda sua habilidade no projeto. A decisão não valeria para aquele momento e sim para o próximo, quando o ócio o atacasse de novo.

Aconteceu logo no dia seguinte. Acordou e, ainda repleto de remelas, pôs-se a trabalhar. Catou meia dúzia de ferramentas e agachou-se próximo à madeira que depois da mágica potiana se transformaria em uma belíssima prateleira. É importante lembrar que índio não senta, coisa de brancos burgueses. Índio se agacha como os sábios do Nepal e os filósofos da Índia.

Prega daqui, aparafusa dali. Índio Poti descobriu que geralmente o mais difícil é o mais seguro. Depois de tantas marteladas, percebeu que só avançaria se usasse uma furadeira. Pois bem, passou a furar tudo. Em quatro horas e meia, montou uma estrutura que sustentaria uma prateleira dentro do armário das panelas. Feliz, a pôs de pé e tentou colocá-la dentro do armarinho para só então perceber que não entraria. Era preciso desmontar tudo.

Índio Poti é paciente, mas o momento de ócio estava próximo do fim. Antes que expirasse, ligou para um marceneiro profissional e resolveu o problema. Índio Poti voltou para sua rede com a certeza de que havia aprendido. Desde então, Indio Poti sempre evita os momentos de ócio.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Indio Poti e o psicotécnico

Como sabem, Indio Poti se candidatou à presidência. Duas horas depois, entretanto, Indio Poti teve uma recaída (no sentido de responsabilidade) e resolveu procurar emprego. Isso pouca gente sabe, mas Indio Poti tem um lado sério que de tempos em tempos atormenta seu coração e o desvia do caminho potiriano que escreveu para si mesmo.

Pois bem, recebeu outro dia um telegrama convidando-o a uma entrevista. O processo era para um cargo de jornalista. Indio Poti não é jornalista, mas dizem que é divertido. Imaginou-se de terno surrado, cheirando a cigarro e falando coisas sem sentido. Colocou sua única camisa social e foi, certo de que pelo menos a conversa seria boa. Esqueceu-se, infelizmente, de levar as flechas e meia dúzia de frascos com veneno.

Dizia o telegrama que a entrevista seria às 9h da matina. Levantou, fez a barba que não tem, montou em seu corcel e foi. Chegou pontual, mas teve de esperar 45 minutos. Indio Poti é justo e paciente e levou o primeiro desrespeito com tranqüilidade. Quando foi atendido, descobriu que não era uma entrevista e sim uma bateria de testes e com mais pessoas. Indio Poti lembrou-se que tinha coisas para resolver na tribo, mas resolveu ficar, lamentando o esquecimento de seu arco e de suas flechas.

Ouviu calado trinta minutos de uma pequena palestra sobre a empresa. Indio Poti só queria saber o valor do salário, mas esta foi a unica informação negada. Indio Poti ouviu e percebeu que a menina que representava as palavras havia decorado todo o texto de forma sublime. As palavras seguiam umas as outras como uma fileira de formigas. Infelizmente, é sabido o que acontece quando as formigas perdem o rumo. E assim as palavras que saiam da boca da tal menina perderam o rumo na primeira gaguejada. E assim, mais 15 minutos foram perdidos.

Nervoso, porém calmo, Indio Poti resolveu pagar para ver e esperou a tal bateria de testes. Ah! Indio Poti, como és justo e paciente. O primeiro teste era o psicotécnico. Indio Poti lembrou que havia feito um daqueles na época em que comprou sua primeira mula. Espantado, esperou que fosse brincadeira, mas não era. Segundo a menina que repetia as palavras como um gravador, era preciso fazer traços verticais como o do modelo e, ao sinal dela, fazer traços horizontais. Que tristeza, Indio Poti pensou. Respirou fundo e como uma máquina começou os traços.

No terceiro traço perfeito, pegou sua caneta, tirou a carga e fez uma linda zarabatana artesanal. Com lascas de madeira retiradas da mesa, esculpiu pequenas setas e em meio minuto derrubou metade da empresa, incluindo o gravador andante e o setor financeiro que se reunia na sala ao lado. No caminho fumou um cigarro sob o detector de fumaça e fez a chuva como um bom seguidor de Tupã.

Com calma e sorrindo, Indio Poti se retirou cantando uma música em língua desconhecida. Dizem que desde aquele dia, todos os funcionários daquela empresa não sabem mais escrever. Se comunicam por meio de traços verticais, língua escrita que só eles entendem. Desde aquele dia, aquela empresa ficou conhecida como Tabalaê Ruatetê (ou a tribo que escreve chuva). Desde aquele dia, Indio Poti nunca mais fez teste psicotécnico.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Indio Poti pensa em sexo

Indio Poti é rei e filósofo. Outro dia passou a noite pensando nas diferenças entre indios e indias. Indio Poti não costuma pensar muito, ele compra pronto, mas neste caso deu-se ao trabalho. Descobriu, revendo sua experiência verde, que a principal dificuldade na questão sexual é o ponto de vista. Enquanto o indio varão precisa da imagem mais que tudo, a india necessita da sensação.

Por isso, indios adoram posições em que podem acompanhar o ato da melhor forma possível. Para o indio, a qualidade do sexo está intimamente ligada as cenas pelas quais o ato é formado. Por outro lado, as indias ficam com o toque, o imaginário, os olhos fechados. O segredo, Indio Poti conclui, é entender esta diferença e respeitá-la.

Entretanto, Indio Poti é Indio Poti. Não tem jeito. No dia seguinte, Indio Poti mandou instalar câmeras em todos os cantos da sua oca, comprou monitores e os posicionou perto da cabeceira da rede. Agora Indio Poti que era apenas um, via suas próprias sacanagens por diversos ângulos. Indio Poti passou a ser voyeur de si mesmo. Indio Poti mais uma vez foi feliz.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Indio Poti e a candidatura

Indio Poti resolveu se candidatar à presidencia. Na verdade, Indio Poti já é rei, mas gostou desta idéia de democracia. Como só a vitória é possível, Indio Poti acha que vai cair bem no currículo o posto de presidente e chefe supremo do exército. Bem, é verdade que não há um exército profissional na tribo, mas e daí?

Indio Poti prometeu construir safaris em todas as cidades. Disse que grade é coisa de burguês- conservador da direita-capitalista. Indio Poti não sabe muito bem o que significa esta denominação, mas ficou feliz com a receptividade de uma tal de esquerda. Indio Poti percebeu também que não importa o que ele faça ou fale, o importante é ser espontâneo. Já tomou 27 multas por propaganda ilegal. Como para Indio Poti tudo é permitido, mandou matar os juízes que ousaram multá-lo.

Ainda faltam dois meses para as eleições e Indio Poti é o lider absoluto das pesquisas. Evidentemente, os institutos que fazem o trabalho são capitaneados pelo próprio Indio Poti. Isso sem contar que Indio Poti é candidato único. O último adversário desapareceu em meio a dossiês e nunca mais foi encontrado.

Agora Indio Poti faz planos. Imagina o momento em que receberá a faixa do antigo presidente, imagina que será um dia presidente da ONU. Indio Poti planeja construir mais cinco palácios de palha e abrir o mercado para distribuir a coca que planta escondido no quintal da sua casa. Indio Poti não tem dúvida que será um grande estadista. Indio Poti já tem até um slogan: "flatulê piá daê, contá pluft tabê"*, que em português significa: "os índios podem mais".

*nota do escriba: na tradução literal da frase há uma pequena diferença. Ao pé da letra, o slogan significa: "Indio Poti pode mais".

terça-feira, 20 de julho de 2010

Indio Poti e o umbigo

Indio Poti é quase um deus. Sua falta, evidentemente, é ter um reluzente umbigo. Indio Poti já pensou em costurar sua pele e tapar o umbigo, mas percebeu que não é adepto a dor nem ao sofrimento corporal. E assim Indio Poti viveu escondendo a única coisa que o colocava na casta dos mortais.

Certo dia, depois de dar um boa noite descompromissado a uma índia, Indio Poti escutou a frase que mudaria a vida da tribo: "você, você é doente! Está acostumado com o mundo girando em torno do seu umbigo!". Calmo como sempre, Indio Poti passou três dias, como de praxe, encasulado na sua rede. No entardecer do último dia, Indio Poti já sabia o que fazer.

Publicou em uma revista científica um texto - usando pseudônimo, claro - que linkava o inocente umbigo a doenças crônicas e fatais. Moto-contínuo, outorgou uma lei que obrigava todos os habitantes daquela tribo a costurar os umbigos e declarou traidores da pátria aqueles que se recusassem.

Em dois dias, 450 pessoas deixaram de ter umbigo e cinco morreram diante do pelotão de flechamento. Em dois dias, Indio Poti tornou-se o único entre aquela gente que tinha umbigo. O episódio ficou conhecido como "Labatuê Tatóa" ou "Em tribo de costurados quem tem umbigo é rei".

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Indio Poti e a chuva

Indio Poti é poderoso, mas ainda não chegou a um acordo com a chuva. No mês passado, começou a temporada de aguaceiro. Indio Poti que é rei teve que ouvir diversas reclamações sobre a situação da tribo. Encostas ameaçavam deslizar, rios estavam subindo e doenças ligadas a falta de saneamento se espalhavam pela tribo.

Segundo os jornais e os técnicos, as obras necessárias gastariam um terço do orçamento da tribo. Indio Poti, entretanto, já tinha um plano. Quando a chuva deu uma pausa, Indio Poti, que conhece muita gente, ligou para um fabricante inglês de plástico. Encomendou um enorme toldo preto na condição de ganhar 15% do valor da venda a título de comissão.

Na manhã seguinte, o toldo estava instalado e cobria todas as ocas da tribo. Por duas semanas, nem uma gota caiu sobre os índios. Em duas semanas, todas as hortas morreram, o calor se fez insuportável e a tribo voltou ao grande palácio de palha para reclamar. Indio Poti que é justo deus as opções: ou o plástico preto ou a chuva.

E assim o toldo foi retirado, a chuva voltou a assolar a tribo e nunca mais houve reclamações sobre este tema. Os jornalistas e técnicos que insistiram no assunto foram perseguidos pela população e expulsos da tribo. As lendas locais se referem a este episódio como Krakatuê Matava (ou a noite dos dias chuvosos). E assim, a chuva e Indio Poti finalmente chegaram a um acordo.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Indio Poti e a inseminação artificial

Indio Poti é inteligente. Ouvindo as experiências dos seus antepassados, Indio Poti resolveu, aos 16 anos, congelar seu sémen. A idéia é simples, sendo sexo o assunto, Indio Poti não confia em si mesmo, muito menos nas indias. Por isso, Indio Poti não pensou duas vezes. Quando começou a ter relações sexuais, Indio Poti congelou suas sementinhas e fez vasectomia. No decorrer de sua jovem vida, já recebeu dezenas de pedidos de pensão. Como resposta, Indio Poti mostrava o recibo da operação. E assim, Indio Poti ainda não é pai. E assim Indio Poti é o único rei do planeta que não paga pensão.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Indio Poti e a sapiência

Indio Poti é estranho. Sempre que vê um espelho, procura por cabelos brancos. Não, Indio Poti não quer envelhecer rápido. A explicação é simples. Indio Poti percebeu que sempre defendeu e atacou as mesmas idéias. No entanto, quando novo, era tratado com desdém e agora é ouvido com respeito. Concluiu, portanto, que quanto mais velho parecer, mais poder terá dentro da tribo.

Implacável como sempre, Indio Poti resolveu o problema na base da tinta. Tinta de cabelo. Mandou pintar de acaju todas as cabeças brancas do lugar (não só lhes retirando a sapiência como jogando-os no ridículo). Para completar, pintou seu próprio cabelo de branco. Agora, Indio Poti não só era o mais sábio da tribo, como era o único.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Indio Poti lava dinheiros

Indio Poti é sinistro. Depois de anos desviando verbas da tribo, Indio Poti percebeu que não poderia gastar tudo aquilo sem ser importunado. Então, Indio Poti fez um acordo com o Governo, que na verdade, é ele mesmo. Criou uma lei que revertia 40% das multas pagas pelos contribuintes para projetos sociais. Depois criou o Indio Poti Organization para proteger as pequenas formigas listradas. Finalmente, começou a cometer pequenos delitos e ser multado por eles. 40% iam diretamente para seu bolso, limpos! Os outros 60% também voltavam pro bolso dele, mas ainda esperando uma boa lavagem. E assim Indio Poti virou o maior empresário do ramo de lavagem.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Indio Poti e o tempo

Índio Poti manda em tudo. Bem, quase tudo. As exceções são as índias e o tempo. Elas, ele desistiu. Quanto ao tempo, ele ainda busca uma solução. Há alguns dias, Índio Poti fez aniversário. Depois de receber cumprimentos, Índio Poti se escondeu na rede pelo resto do dia. Pensava, insistentemente, em como parar o tempo. Afinal, Índio Poti queria construir pelo menos mais cinco castelos de palha e com o tempo que tinha, seria impossível.

No dia seguinte, ordenou que todos os calendários fossem queimados em grande fogueira. Estipulou também que não se comemorariam mais aniversários, nem dias especiais. Proibiu relógios. Mandou prender os relojoeiros. Índio Poti apagou da memória daquele povo a idéia de tempo. Ele sabia que não havia como pará-lo, mas a possibilidade de tornar o tempo invisível era fantástica. A partir deste dia, Índio Poti não fez mais aniversário. A partir deste dia, Índio Poti ficou imortal.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Indio Poti monta uma oca

Índio Poti tem dinheiro. Aliás, é o único da tribo. Na semana passada, Índio Poti, que é justo, resolveu montar a sua oca como se fosse um índio normal, isto é, sem dinheiro. Foi numa grande loja de móveis e ali andou, olhou e teve que se segurar para não mandar que tocassem fogo naquela joça. Índio Poti ficou impressionado com o preço das coisas. Como poderia uma prateleira, um simples pedaço de madeira, custar 60 dinheiros? Como é que um sofá vagabundo alcançava a exorbitante cifra de 1300 dinheiros? O que estava acontecendo? Que trem Índio Poti havia perdido?

Índio Poti segurou a raiva incontrolável sentida normalmente pelos pobres mortais e voltou pra tribo. Com calma, Índio Poti contatou ONGs e pediu reuniões com líderes sindicais. Alegando que a tal loja de móveis usava madeira ilegal e abusava dos trabalhadores, os obrigando a trabalhar oito horas por dia, Índio Poti conseguiu o que queria. O conselho autorizou a invasão e a mídia apoiou o ato.

Em três horas e poucas flechas, Índio Poti tomou a loja de móveis. Distribuiu algumas prateleiras para os parceiros da empreitada e fechou a loja. Por 24h. Depois reabriu o estabelecimento, com o mesmo nome e com os mesmos preços. Índio Poti, na verdade, achava que os preços estavam baratos demais.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Indio Poti e a Copa do Mundo

Índio Poti é rei e gosta das coisas que facilitam a sua vida. Uma delas é o futebol. Enquanto a turba assiste aos jogos, Índio Poti constrói mais um castelo de palha. Na última competição, Índio Poti bateu um recorde: aumentou em 300% seu patrimônio. E isso só com mandioca superfaturada. Mas nem tudo é perfeito.

Pouco antes da Copa do Mundo, Índio Poti percebeu que os jogos andavam um tanto chatos. Tão chatas estavam as partidas que chegaram a perguntar a ele para que serviria aquele um monte de palha importada que havia chegado na tribo. Ainda bem que uma só pessoa percebeu. Segundo Índio Poti, ele não teve nada a ver com o sumiço do tal questionador.

Pois bem, sabendo que seus castelos estavam em perigo, Índio Poti marcou uma reunião com o presidente da FIFA. Em pauta, mudanças importantes que - em teoria - fariam o esporte bretão ficar mais emocionante. Índio Poti impôs, sob ameaça de chuva de flechas, que os goleiros não poderiam usar mais as mãos, que a bola passaria a se chamar jabulani (que significa bola identificadora de craques em Tupi), que o esquema com dois volantes estava banido e, finalmente, que era proibido que um time ficasse com mais de oito jogadores no lado de defesa do campo.

Evidentemente, apenas a bola foi adotada. O resto foi esquecido, assim como a chuva de flechas. Para tristeza de Índio Poti, a bola - idéia que teve enquanto fumava uma erva indígena - foi parar literalmente na arquibancada. Poucos craques foram convocados, a bola tornou-se indomável e a Copa foi uma tragédia. Índio Poti, depois do segundo empate, escondeu a palha importada e só conseguiu aumentar seu patrimônio em 150%, sem direito a nenhum castelo.

Mas Índio Poti pensa longe. Já mandou construir - legalmente - um armazém para estocar flechas. Para aprovar o orçamento, alegou que serviria para a defesa do patrimônio indígena. Indio Poti nunca mente.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Indio Poti e as minorias

Indio Poti não gosta que ninguém diga a ele o que fazer. Indio Poti é independente como as indias da era moderna. Nos conflitos, Indio Poti tem uma fórmula mágica. Quando a briga é com alguém mais forte, Indio Poti alega que é minoria. Quando a briga é com o mais fraco, desce o cacete. E no jogo da divisão de classes, Indio Poti é mestre. Na tribo, a minoria é fácil de ser identificada. São homens brancos, heterosexuais e fazem parte da classe média. Indio Poti sabe que eles são a verdadeira minoria, mas só ele. O resto da tribo acredita que essa casta é a maioria controladora da tribo, e Indio Poti faz que é verdade e assim evita rebeliões.

Para bajular as minorias maiores, Indio Poti criou a JIIR (Junta indígena para a Igualdade Racial). Indio Poti não é bobo e sabe que esse negócio de raça não existe, mas e daí? Nesta organização governamental, só trabalham negros, indios e asiáticos. Segundo Indio Poti, é uma forma de igualar as coisas. E funciona muito bem na hora do voto. Até os brancos gostam. Acalma a culpa que inculcaram neles. E Indio Poti foi nomeado por sua tribo o índio mais branco-asiático-negro da tribo.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Indio Poti e a ironia

Índio Poti é irônico por natureza. Até seu olhar é irônico. No começo, os índios da tribo tinham medo, depois riram e, finalmente, acharam-no bobo. Indio Poti é tudo, menos bobo. Nesta época Índio Poti se conhecia pouco. Garoto arteiro estava com energia para conhecer o mundo e as índias e ele mesmo era uma seara para a qual não havia pressa. Muito depois, Indio Poti percebeu que suas ironias sem direção eram uma forma de defesa. Como só falava ironizando, quando falava a verdade, ninguém levava à sério. Mas para a consciência de Indio Poti, o recado havia sido dado. E assim Indio Poti reinou por longos anos sem nunca ter perdido uma noite de sono.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Indio Poti e o controle de população

Indio Poti governa a tribo fingindo não governá-la. Há algum tempo, Indio Poti percebeu que a população de sua tribo estava diminuindo e, consequentemente, a arrecadação de impostos estava caindo. Para resolver o problema, Indio Poti subornou os produtores de camisinhas e pílulas para que estes furassem as primeiras e trocassem as segundas por farinha. Em três anos, a população da tribo aumentou 30% e os impostos, para felicidade de Indio Poti, um tanto mais.

Depois deste boom, Indio Poti percebeu que a estrutura da tribo não permitia tanta gente. Sem querer gastar o dinheiro que tinha para melhorar as coisas, Indio Poti resolveu arquitetar um plano novo: sabotaria sua própria gente e colocaria a culpa em outros. Meses depois, sob o clamor da população, Indio Poti declarou guerra a tribo adversária. Evidentemente, Indio Poti sabia que a vitória viria embalada em uma olimpica derrota. Para isso Indio Poti combinou tudo com seu adversário.

Diz a lenda indigena que esta foi a guerra de uma só batalha, e essa a batalha a de um só minuto. Em um minuto todo o exército de Indio Poti foi dizimado. E Indio Poti foi o derrotado mais feliz da história das guerras.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Indio Poti e o trânsito da tribo

Indio Poti tem o melhor cavalo da tribo. O animal não só corre como o vento, como trota e dá saltinhos. Indio Poti nunca se preocupou em organizar o trânsito da tribo já que o trânsito era ele. Nos últimos tempos, com a entrada de cavalos importados por preços menores, o trânsito antes uno virou uma confusão e Indio Poti teve que agir. O primeiro passo foi criar regras, o rápido pela esquerda, o devagar pela direita, não pode furar fila, carroças só na direita e mais umas tantas.

Mas o primeiro passo ia demorar mais que o previsto. As leis não pegaram. Indio Poti observou que na cabeça dos condutores era legal andar devagar na esquerda, que era malandro furar fila, enfim que tudo o que previra tinha saído ao contrário. Mas não chegava a ser um problema. A solução de Indio Poti foi lançar um pacote de lei diametralmente oposto ao primeiro: o rápido anda na direita, o devagar na esquerda, furar fila é regra etc.

Em pouco mais de uma semana a tribo passou a desrespeitar o segundo pacote - as leis vigentes - e respeitar o primeiro. E Indio Poti pôde andar na esquerda usando toda a sua potência, e Indio Poti pôde furar fila sozinho.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Indio Poti vence mais uma

Certa vez, Indio Poti recebeu a visita de um diplomata de uma tribo vizinha. Este homem cantou as belezas e a honradez que impregnavam sua gente, que eram conhecidos como Babaobas (aqueles que são bons como águias sem bico). Indio Poti fez pouco daquilo tudo e mandou de presente para o rei vizinho um pote de paçoca e um saco de mandioca.

Na semana seguinte, Indio Poti percebeu que muitos índios da sua tribo estavam indo morar na taba vizinha. Vizinha não, a partir daquele momento, adversária. Diziam pelos cantos que lá a verdade era possível, que o respeito era obrigatório, que o amor, natural. Indio Poti se retirou e foi se aconselhar com seus deuses (um espelho). Na noite seguinte, Indio Poti convidou o rei "adversário" para um banquete. O rei bom que só tinha amor no coração foi pontual e com ele muitos presentes foram trazidos. Indio Poti estudou aquele homem e, por meses, o banquete se repetiu religiosamente.

Num dia qualquer, Indio Poti, que é muito esperto, publicou dois textos anônimos. O primeiro criticava e fazia denúncias verdadeiras contra si mesmo. O segundo fazia as mesmas denúncias - porém falsas - contra o rei bom. Em uma semana, os Babaobas se revoltaram, decapitaram seu rei e se uniram ao Indio Poti. E Indio Poti pensou: "dos maus tudo se espera e nada choca, portanto que falem verdades, sinal de honestidade. Dos bons, nem alfinete, portanto que falem mentiras, grudentas como verdades para quem não tem calos no corpo". E assim foi criada a imprensa marrom.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Indio Poti e a calça sem zíper

Indio Poti adora receber presentes. Na quinta passada, Indio Poti ganhou uma calça jeans com vários bolsos. Indio Poti gostou do presente e foi logo pra oca real experimentar. Em principio, os botões no lugar do zíper não incomodaram, mas foi só dar vontade de ir ao banheiro que Indio Poti descobriu o valor imenso que o zíper tem na vida de um homem. Na terceira vez que tentou ir ao banheiro se mijou todo, já que não conseguiu se desvencilhar do primeiro botão. Indio Poti molhado e irritado baixou uma portaria que obrigava os indios a andarem pelados e assim Pero Vaz Caminha foi possível.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Indio Poti e o futebol

Indio Poti não gosta de esportes. Na verdade acha perda de tempo. Indio Poti entende, entretanto, que as pessoas gostam. E sabe mais: importante é o que acontece entre os jogos e não o jogo propriamente. Pensando nisso, Indio Poti criou a CTF (Confederação Tabeira de Futebol). Nos primeiros anos, a seleçao da Taba ganhou todos os jogos, mas a coisa ficou chata. Pensando em como reanimar a turba, Indio Poti resolveu nomear técnicos contraditórios. E aconteceu o que Indio Poti esperava, o futebol em sí perdeu graça mas as discussões e o interesse do povo aumentou substancialmente. Na última Copa Unificada das Tribos, a seleção de Indio Poti levou jogadores sem nenhuma expressão e não ganhou. O que importou, todavia, é que enquanto os indios discutiam qual seria a melhor escalação, Indio Poti deitou e rolou nas contas da tribo. E Indio Poti criou uma confederação para cada esporte e o povo nunca mais lembrou de conferir as contas da tribo.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Indio Poti cria impotência

Indio Poti é estrategista. Não passa um dia em que Indio Poti não pense em uma maneira de reafirmar seu poder. Indio Poti leu Kafka, Sun Tzu e Maquiavel. Indio Poti visitou ditadores em países da Africa e impostores na América do Sul. Depois de muito tempo, Indio Poti descobriu a melhor das estratégias de controle: criar um sistema burocrático em que não exista saída e no qual qualquer arrombo de irritação por parte do povo só piora as coisas. "Acomodação irritada acarreta perda de autoestima e frustração e, em consequência, maior controle", disse certa vez um Indio Poti inspirado. A primeira instituição criada seguindo este novo conceito foi batizada por Indio Poti de Detran e o povo nunca mais foi o mesmo.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Indio Poti e a justiça das indias

Indio Poti é justo. Mais justo que ele nunca houve. Na passada semana, Indio Poti recebeu uma comissão de indias que reclamou de algumas carateristicas biológicas que diferenciavam homens e mulheres e que colocavam estas em maiores dificuldades que aqueles. Indio Poti, que gosta de mulher mais que tudo, não só escutou com atenção como, imediatamente, fez leis que acabavam com algumas diferenças de gênero. Na semana seguinte, Indio Poti enfileirou todo os indios da tribo e em todos eles foi feito um corte na perna. Corte esse que seria cultivado durante sete dias. Indio Poti também determinou que todos os homens da tribo recebessem socos no estômago a cada 20 minutos durante o dia em que o corte foi feito. Não satisfeito, Indio Poti ordenou que depois de cada ato sexual, era obrigatório conversar sobre relacionamento e fazer massagem. As indias, diante de todo aquele esforço, endeusaram Indio Poti. Mas Indio Poti não estava satisfeito. Fez com que fosse proibido deixar que pêlos crescessem nas pernas e nos suvacos dos indios. Fez do choro masculino uma obrigação em momentos emocionantes e, por fim, proibiu futebol, churrascos e rodas com mais de dois homens conversando. E assim foi feito, como determinou Indio Poti.

Duas semanas depois, a comissão voltou ao trono e pediu audiência com Indio Poti que a recebeu de pronto. A reclamação era a de que os indios estavam pouco másculos, que não davam suporte em casa com as tarefas características de homens e que as relações de todos perigavam como nunca. Indio Poti riu e pediu para que todas as indias da tribo com idade entre 18 e 35 anos fossem enviadas para seu harém. Pediu também que as mais velhas fossem mandadas para seu primo que morava do outro lado da montanha e abriu uma ONG em defesa das minorias para captar dinheiro das Instituições Internacionais.

E assim foi fundada a primeira tribo gay que existiu sobre a terra, o que não incluia - obviamente - o magnânimo Indio Poti.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Indio Poti faz a paz

Indio Poti gosta de paz. Por isso, mulheres só podem ficar com Indio Poti um quarto do dia. No governo, Indio Poti se esforça para não entrar em guerras, quando entra já sabe que vai ganhar. A única guerra que Indio Poti perdeu foi aquela contra as saúvas. Mas aí, nem Policarpo. Em sua paz divina, um dia Indio Poti percebeu que uma rebelião nascia na tribo. Foi averiguar e descobriu que a coisa estava feia. Também tomou conhecimento que nenhum indio da tribo jamais havia se masturbado e que o sexo só acontecia para fins de procriação. Irritado, Indio Poti expulsou os jesuitas e baixou duas leis que se complementavam. A primeira, obrigava cada Indio a ter relações sexuais pelo menos uma vez por dia. A segunda tratava do sexo solitário que deveria ser praticado ao menos a cada duas horas. Um mês após a publicação das leis, a tribo ficou calma como nunca e em nove meses Indio Poti inaugurou o seu mercado de escravos. Essa época ficou conhecida como Micauêtaná (ou na língua de Indio Poti "paz e sexo, faça você mesmo").

terça-feira, 27 de abril de 2010

Indio Poti e os Devedores

Indio Poti deve, mas odeia devedores. Indio Poti nunca pagou uma conta na vida, nem faz de conta que vai pagar, pois considera a mentira um tropeço da alma. Por isso, Indio Poti não promete e faz tudo o mais honestamente possível. Dia desses, um indio pediu a Poti uma quantia relevante para quitar a compra de uma geladeira. Indio Poti, que é rei e é justo, foi bom e emprestou o dinheiro. Como é muito generoso, Indio Poti estipulou um prazo de 4h para a devolução do empréstimo. O prazo poderia ser menor, mas Indio Poti é tudo menos sovina. Na hora marcada, o indio da geladeira não apareceu e Indio Poti se sentiu enganado. Pouco depois a geladeira apareceu no meio da taba, com o indio devedor dentro. Ficou lá por duas semanas e Indio Poti confiscou todos os bens do malandro, inclusive a mulher, que era linda. A partir deste momento, Indio Poti só empresta dinheiro para pessoas que tem mulheres bonitas. Para o resto, nem aperto de mão. E Indio Poti foi construir seu harém.

domingo, 25 de abril de 2010

Indio Poti e a vida perfeita

Indio Poti aprendeu quando criança que algumas coisas são muito importantes na vida de um homem. O caderno de telefones, uma carteira cheia de dinheiro e a fama de canalha. Ninguém até hoje convenceu Indio Poti de que bondade e caráter, por exemplo, são revertidos em acontecimentos felizes. Mesmo que fosse verdade, demoraria para acontecer e Indio Poti não tem paciência.

Numa tarde de domingo, apareceu na taba um velho que dizia-se sábio. Com barbas brancas na altura do peito e um cajado de chifre de bode, o ancião atirava aos ventos os principios de uma vida perfeita. Indio Poti que não é bobo, chamou o cidadão e perguntou-lhe o que deveria fazer para ser um sábio feliz. Se alguém tinha o direito de saber era ele e mais ninguém.

Indio Poti escutou palavras como ética, moral, coerência, humildade, honra e paciência. De acordo com o que o velho contou, se um homem fosse capaz de manter seu espírito livre de maldades, a vida automáticamente se tornaria melhor. Em sua cabeça Indio Poti desejava estrangular aquele senhor de barbas brancas. Mas Indio Poti é esperto e queria fazer uns testes.

Indio Poti se apegou a ética e quase perdeu o trono. Indio Poti se agarrou a moral e perdeu os amigos. Indio Poti foi tentar ser coerente e foi tachado de inflexível. Indio Poti ficou humilde e viu os outros cuspirem nele. Indio Poti defendeu a honra e quase levou uma flechada. Indio Poti percebeu que se as regras do jogo não valem para todos, não adiante seguí-las. E Indio Poti ficou satisfeito.

Nomeou o velho sábio como prefeito da tribo e assinou leis que obrigavam os habitantes a seguir aquelas palavras de sabedoria. Indio Poti riu quando soube que as regras estavam sendo aceitas pelos outros índios. Agora, a tranquilidade invadia a pequena cabeça de Indio Poti. Todos seguiriam o caminho reto e perfeito da vida e Indio Poti continuaria correndo pelos atalhos. Indio Poti, como ficou registrado nos cantos daquele povo, reinou até os noventa e sete anos, quando morreu subitamente, muito tempo depois de todos os sábios da tribo.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Indio Poti e o Muro Sagrado

Indio Poti nunca foi criança e gosta de sexo desde que viu o primeiro peito, que não o da mãe dele. Indio Poti fazia questão de traçar todas as coroas da tribo e depois chantageá-las, prometendo processá-las por pedofilia. Mas Indio Poti nunca quis dinheiro, queria, sim, mais sexo. Indio Poti gostava de mulheres até o dia em que descobriu que a Internet dava menos trabalho. Ficou sócio de todos os sites pornô e ali fazia suas orgias imaginárias com mulheres de outros países. Evidentemente que Indio Poti era o único que tinha conexão naquele momento e quando os cabos alcançaram a tribo, Indio Poti, que era o grande líder, proibiu o sexo a dois. Dois meses depois, cansados das americanas peitudas, Indio Poti criou o muro sagrado. Neste muro foram feitos vários buracos. De um lado, Indio Poti determinou que só homens poderiam frequentar e do outro, apenas mulheres. Indio Poti criou o sexo sem rosto. Os indios de toda a taba corriam ali para fazer o verdadeiro sexo sem compromisso. No final de um dia de muitos buracos, Indio Poti viu outro indio sair do lado das mulheres. Indio Poti que é liberal mas nem tanto, mandou que todos os machos da tribo deixassem crescer a barba. Com barba no rosto, Indio Poti foi dormir tranquilo.

Poti e o RH

Indio Poti odeia trabalhar. Sempre que aparece alguma coisa pra fazer, Indio Poti chama um estagiário. Aliás, o que mais deixa Indio Poti feliz é escolher estagiário. Homem, pra começar, não entra e mulher, só se for bonita. O resto é conversa de RH. Na última vaga aberta na tribo, Indio Poti fez questão de acompanhar de perto todo o processo. Empolgado com as perguntas, Indio Poti se candidatou à vaga e não passou. Perguntou o motivo e lhe foi explicado que algum trauma de infância o impedia de ocupar a vaga de lustrador de lanças. Indio Poti não gostou da insinuação e pediu para que a india fizesse uma outra pergunta qualquer. Como todos tem medo do Indio Poti, a índia responsável obedeceu pedindo a Indio Poti que ele identificasse um ponto positivo de sua personalidade. Indio Poti não titubeou e respondeu, sou um grande filho da puta, e mandou espetar toda a equipe de RH em lanças estratégicamente posicionadas ao redor da oca principal. A partir deste momento, foi proibido para sempre fazer perguntas idiotas na taba e a pena para quem trangredisse a lei era a lança. Na mesma época ocorreu o maior êxodo de profissionais de RH que já foi visto. Movimento migratório este que ficou conhecido como "Cracatuauê", ou quando os traumatizados vão traumatizar em outro lugar.