terça-feira, 24 de agosto de 2010

Indio Poti e o psicotécnico

Como sabem, Indio Poti se candidatou à presidência. Duas horas depois, entretanto, Indio Poti teve uma recaída (no sentido de responsabilidade) e resolveu procurar emprego. Isso pouca gente sabe, mas Indio Poti tem um lado sério que de tempos em tempos atormenta seu coração e o desvia do caminho potiriano que escreveu para si mesmo.

Pois bem, recebeu outro dia um telegrama convidando-o a uma entrevista. O processo era para um cargo de jornalista. Indio Poti não é jornalista, mas dizem que é divertido. Imaginou-se de terno surrado, cheirando a cigarro e falando coisas sem sentido. Colocou sua única camisa social e foi, certo de que pelo menos a conversa seria boa. Esqueceu-se, infelizmente, de levar as flechas e meia dúzia de frascos com veneno.

Dizia o telegrama que a entrevista seria às 9h da matina. Levantou, fez a barba que não tem, montou em seu corcel e foi. Chegou pontual, mas teve de esperar 45 minutos. Indio Poti é justo e paciente e levou o primeiro desrespeito com tranqüilidade. Quando foi atendido, descobriu que não era uma entrevista e sim uma bateria de testes e com mais pessoas. Indio Poti lembrou-se que tinha coisas para resolver na tribo, mas resolveu ficar, lamentando o esquecimento de seu arco e de suas flechas.

Ouviu calado trinta minutos de uma pequena palestra sobre a empresa. Indio Poti só queria saber o valor do salário, mas esta foi a unica informação negada. Indio Poti ouviu e percebeu que a menina que representava as palavras havia decorado todo o texto de forma sublime. As palavras seguiam umas as outras como uma fileira de formigas. Infelizmente, é sabido o que acontece quando as formigas perdem o rumo. E assim as palavras que saiam da boca da tal menina perderam o rumo na primeira gaguejada. E assim, mais 15 minutos foram perdidos.

Nervoso, porém calmo, Indio Poti resolveu pagar para ver e esperou a tal bateria de testes. Ah! Indio Poti, como és justo e paciente. O primeiro teste era o psicotécnico. Indio Poti lembrou que havia feito um daqueles na época em que comprou sua primeira mula. Espantado, esperou que fosse brincadeira, mas não era. Segundo a menina que repetia as palavras como um gravador, era preciso fazer traços verticais como o do modelo e, ao sinal dela, fazer traços horizontais. Que tristeza, Indio Poti pensou. Respirou fundo e como uma máquina começou os traços.

No terceiro traço perfeito, pegou sua caneta, tirou a carga e fez uma linda zarabatana artesanal. Com lascas de madeira retiradas da mesa, esculpiu pequenas setas e em meio minuto derrubou metade da empresa, incluindo o gravador andante e o setor financeiro que se reunia na sala ao lado. No caminho fumou um cigarro sob o detector de fumaça e fez a chuva como um bom seguidor de Tupã.

Com calma e sorrindo, Indio Poti se retirou cantando uma música em língua desconhecida. Dizem que desde aquele dia, todos os funcionários daquela empresa não sabem mais escrever. Se comunicam por meio de traços verticais, língua escrita que só eles entendem. Desde aquele dia, aquela empresa ficou conhecida como Tabalaê Ruatetê (ou a tribo que escreve chuva). Desde aquele dia, Indio Poti nunca mais fez teste psicotécnico.

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