segunda-feira, 31 de maio de 2010

Indio Poti e a ironia

Índio Poti é irônico por natureza. Até seu olhar é irônico. No começo, os índios da tribo tinham medo, depois riram e, finalmente, acharam-no bobo. Indio Poti é tudo, menos bobo. Nesta época Índio Poti se conhecia pouco. Garoto arteiro estava com energia para conhecer o mundo e as índias e ele mesmo era uma seara para a qual não havia pressa. Muito depois, Indio Poti percebeu que suas ironias sem direção eram uma forma de defesa. Como só falava ironizando, quando falava a verdade, ninguém levava à sério. Mas para a consciência de Indio Poti, o recado havia sido dado. E assim Indio Poti reinou por longos anos sem nunca ter perdido uma noite de sono.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Indio Poti e o controle de população

Indio Poti governa a tribo fingindo não governá-la. Há algum tempo, Indio Poti percebeu que a população de sua tribo estava diminuindo e, consequentemente, a arrecadação de impostos estava caindo. Para resolver o problema, Indio Poti subornou os produtores de camisinhas e pílulas para que estes furassem as primeiras e trocassem as segundas por farinha. Em três anos, a população da tribo aumentou 30% e os impostos, para felicidade de Indio Poti, um tanto mais.

Depois deste boom, Indio Poti percebeu que a estrutura da tribo não permitia tanta gente. Sem querer gastar o dinheiro que tinha para melhorar as coisas, Indio Poti resolveu arquitetar um plano novo: sabotaria sua própria gente e colocaria a culpa em outros. Meses depois, sob o clamor da população, Indio Poti declarou guerra a tribo adversária. Evidentemente, Indio Poti sabia que a vitória viria embalada em uma olimpica derrota. Para isso Indio Poti combinou tudo com seu adversário.

Diz a lenda indigena que esta foi a guerra de uma só batalha, e essa a batalha a de um só minuto. Em um minuto todo o exército de Indio Poti foi dizimado. E Indio Poti foi o derrotado mais feliz da história das guerras.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Indio Poti e o trânsito da tribo

Indio Poti tem o melhor cavalo da tribo. O animal não só corre como o vento, como trota e dá saltinhos. Indio Poti nunca se preocupou em organizar o trânsito da tribo já que o trânsito era ele. Nos últimos tempos, com a entrada de cavalos importados por preços menores, o trânsito antes uno virou uma confusão e Indio Poti teve que agir. O primeiro passo foi criar regras, o rápido pela esquerda, o devagar pela direita, não pode furar fila, carroças só na direita e mais umas tantas.

Mas o primeiro passo ia demorar mais que o previsto. As leis não pegaram. Indio Poti observou que na cabeça dos condutores era legal andar devagar na esquerda, que era malandro furar fila, enfim que tudo o que previra tinha saído ao contrário. Mas não chegava a ser um problema. A solução de Indio Poti foi lançar um pacote de lei diametralmente oposto ao primeiro: o rápido anda na direita, o devagar na esquerda, furar fila é regra etc.

Em pouco mais de uma semana a tribo passou a desrespeitar o segundo pacote - as leis vigentes - e respeitar o primeiro. E Indio Poti pôde andar na esquerda usando toda a sua potência, e Indio Poti pôde furar fila sozinho.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Indio Poti vence mais uma

Certa vez, Indio Poti recebeu a visita de um diplomata de uma tribo vizinha. Este homem cantou as belezas e a honradez que impregnavam sua gente, que eram conhecidos como Babaobas (aqueles que são bons como águias sem bico). Indio Poti fez pouco daquilo tudo e mandou de presente para o rei vizinho um pote de paçoca e um saco de mandioca.

Na semana seguinte, Indio Poti percebeu que muitos índios da sua tribo estavam indo morar na taba vizinha. Vizinha não, a partir daquele momento, adversária. Diziam pelos cantos que lá a verdade era possível, que o respeito era obrigatório, que o amor, natural. Indio Poti se retirou e foi se aconselhar com seus deuses (um espelho). Na noite seguinte, Indio Poti convidou o rei "adversário" para um banquete. O rei bom que só tinha amor no coração foi pontual e com ele muitos presentes foram trazidos. Indio Poti estudou aquele homem e, por meses, o banquete se repetiu religiosamente.

Num dia qualquer, Indio Poti, que é muito esperto, publicou dois textos anônimos. O primeiro criticava e fazia denúncias verdadeiras contra si mesmo. O segundo fazia as mesmas denúncias - porém falsas - contra o rei bom. Em uma semana, os Babaobas se revoltaram, decapitaram seu rei e se uniram ao Indio Poti. E Indio Poti pensou: "dos maus tudo se espera e nada choca, portanto que falem verdades, sinal de honestidade. Dos bons, nem alfinete, portanto que falem mentiras, grudentas como verdades para quem não tem calos no corpo". E assim foi criada a imprensa marrom.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Indio Poti e a calça sem zíper

Indio Poti adora receber presentes. Na quinta passada, Indio Poti ganhou uma calça jeans com vários bolsos. Indio Poti gostou do presente e foi logo pra oca real experimentar. Em principio, os botões no lugar do zíper não incomodaram, mas foi só dar vontade de ir ao banheiro que Indio Poti descobriu o valor imenso que o zíper tem na vida de um homem. Na terceira vez que tentou ir ao banheiro se mijou todo, já que não conseguiu se desvencilhar do primeiro botão. Indio Poti molhado e irritado baixou uma portaria que obrigava os indios a andarem pelados e assim Pero Vaz Caminha foi possível.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Indio Poti e o futebol

Indio Poti não gosta de esportes. Na verdade acha perda de tempo. Indio Poti entende, entretanto, que as pessoas gostam. E sabe mais: importante é o que acontece entre os jogos e não o jogo propriamente. Pensando nisso, Indio Poti criou a CTF (Confederação Tabeira de Futebol). Nos primeiros anos, a seleçao da Taba ganhou todos os jogos, mas a coisa ficou chata. Pensando em como reanimar a turba, Indio Poti resolveu nomear técnicos contraditórios. E aconteceu o que Indio Poti esperava, o futebol em sí perdeu graça mas as discussões e o interesse do povo aumentou substancialmente. Na última Copa Unificada das Tribos, a seleção de Indio Poti levou jogadores sem nenhuma expressão e não ganhou. O que importou, todavia, é que enquanto os indios discutiam qual seria a melhor escalação, Indio Poti deitou e rolou nas contas da tribo. E Indio Poti criou uma confederação para cada esporte e o povo nunca mais lembrou de conferir as contas da tribo.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Indio Poti cria impotência

Indio Poti é estrategista. Não passa um dia em que Indio Poti não pense em uma maneira de reafirmar seu poder. Indio Poti leu Kafka, Sun Tzu e Maquiavel. Indio Poti visitou ditadores em países da Africa e impostores na América do Sul. Depois de muito tempo, Indio Poti descobriu a melhor das estratégias de controle: criar um sistema burocrático em que não exista saída e no qual qualquer arrombo de irritação por parte do povo só piora as coisas. "Acomodação irritada acarreta perda de autoestima e frustração e, em consequência, maior controle", disse certa vez um Indio Poti inspirado. A primeira instituição criada seguindo este novo conceito foi batizada por Indio Poti de Detran e o povo nunca mais foi o mesmo.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Indio Poti e a justiça das indias

Indio Poti é justo. Mais justo que ele nunca houve. Na passada semana, Indio Poti recebeu uma comissão de indias que reclamou de algumas carateristicas biológicas que diferenciavam homens e mulheres e que colocavam estas em maiores dificuldades que aqueles. Indio Poti, que gosta de mulher mais que tudo, não só escutou com atenção como, imediatamente, fez leis que acabavam com algumas diferenças de gênero. Na semana seguinte, Indio Poti enfileirou todo os indios da tribo e em todos eles foi feito um corte na perna. Corte esse que seria cultivado durante sete dias. Indio Poti também determinou que todos os homens da tribo recebessem socos no estômago a cada 20 minutos durante o dia em que o corte foi feito. Não satisfeito, Indio Poti ordenou que depois de cada ato sexual, era obrigatório conversar sobre relacionamento e fazer massagem. As indias, diante de todo aquele esforço, endeusaram Indio Poti. Mas Indio Poti não estava satisfeito. Fez com que fosse proibido deixar que pêlos crescessem nas pernas e nos suvacos dos indios. Fez do choro masculino uma obrigação em momentos emocionantes e, por fim, proibiu futebol, churrascos e rodas com mais de dois homens conversando. E assim foi feito, como determinou Indio Poti.

Duas semanas depois, a comissão voltou ao trono e pediu audiência com Indio Poti que a recebeu de pronto. A reclamação era a de que os indios estavam pouco másculos, que não davam suporte em casa com as tarefas características de homens e que as relações de todos perigavam como nunca. Indio Poti riu e pediu para que todas as indias da tribo com idade entre 18 e 35 anos fossem enviadas para seu harém. Pediu também que as mais velhas fossem mandadas para seu primo que morava do outro lado da montanha e abriu uma ONG em defesa das minorias para captar dinheiro das Instituições Internacionais.

E assim foi fundada a primeira tribo gay que existiu sobre a terra, o que não incluia - obviamente - o magnânimo Indio Poti.