terça-feira, 20 de julho de 2010

Indio Poti e o umbigo

Indio Poti é quase um deus. Sua falta, evidentemente, é ter um reluzente umbigo. Indio Poti já pensou em costurar sua pele e tapar o umbigo, mas percebeu que não é adepto a dor nem ao sofrimento corporal. E assim Indio Poti viveu escondendo a única coisa que o colocava na casta dos mortais.

Certo dia, depois de dar um boa noite descompromissado a uma índia, Indio Poti escutou a frase que mudaria a vida da tribo: "você, você é doente! Está acostumado com o mundo girando em torno do seu umbigo!". Calmo como sempre, Indio Poti passou três dias, como de praxe, encasulado na sua rede. No entardecer do último dia, Indio Poti já sabia o que fazer.

Publicou em uma revista científica um texto - usando pseudônimo, claro - que linkava o inocente umbigo a doenças crônicas e fatais. Moto-contínuo, outorgou uma lei que obrigava todos os habitantes daquela tribo a costurar os umbigos e declarou traidores da pátria aqueles que se recusassem.

Em dois dias, 450 pessoas deixaram de ter umbigo e cinco morreram diante do pelotão de flechamento. Em dois dias, Indio Poti tornou-se o único entre aquela gente que tinha umbigo. O episódio ficou conhecido como "Labatuê Tatóa" ou "Em tribo de costurados quem tem umbigo é rei".

Nenhum comentário: