segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Poti e o eject

Poti trocou Iracema por um vídeo cassete phillips. Poti ficou encantado com a função eject e por toda a noite ficou enfiado e tirando a fita do aparelho. Poti tanto fez isso que começou a pensar em aplicar a função eject em outras situações. Na noite em que Poti ficou com Mamaona (ou a índia da lua cheia), Poti apertou o botão eject até a exaustão imaginando a índia voando para fora da oca. Mas não teve jeito, teve que dormir abraçadinho e escutar o belo ressonar da indiazona. Pela manhã, Poti cavou um buraco sob a rede e o cobriu com belas folhas de bananeira. Na noite seguinte, logo que terminou o ato animal, Poti tentou se livrar da Tiacata (ou aquela que tem inhaca), mas não obteve sucesso. Poti que é forte e corajoso, se agarrou a rede e fez um 360 graus deixando sua pegajosa companhia cair desacordada no santo buraco. E Poti proclamou: que todos os homens e mulheres tenham direito ao botão eject. E assim ainda não foi feito, pois a verba destinada às obras (buracos, molas e afins) foram desviadas para a compra dos tais tamancos franceses.

Poti e a modernidade

Poti fez 10 anos, mas tem experiência de índio de 45. Mesmo velho, Poti se surpreende com as novidades do mundo moderno. Depois de ter trocado toda a tribo por tamancos franceses, Poti descobriu a luva esfoliadora. O índio da farmácia disse a Poti que este instrumento estético era coisa de indiazinha e Poti não gostou da insinuação. Poti esfoliou o homem da farmácia até o osso e foi pra oca feliz tirar os cravos que não tinha. Poti também descobriu o barbeador, o ar-condicionado e a comida enlatada. Poti usa doze (não douze como diz o professor) relógios em cada braço, assim qualquer hora é hora. Poti liga o aquecedor no verão para fazer amor suado. Poti raspa tudo com o novo barbeador. Quando acabam seus pêlos (com acento, por favor), vai aparar a grama. Poti adora comida enlatada, pois quando cozinha não tem quem lave a louça. Poti acha que internet é perda de tempo, mas vai ser bom quando os cabos da net alcançarem a taba. Poti gosta de celular, mas teve que tomar uma decisão séria em relação a isso. Depois que comprou um que fazia chover, mas que não completava uma ligação, Poti decretou que era proibido qualquer coisa dois por um. Poti inclusive proibiu a prática milenar do 69, pois dizia que prazer o se dá ou se recebe, o resto é conversa de modernista.

Poti faz troca

Índio Poti era um cara esquisito. Gostava de artes, mas sonhava com a guerra, tinha amigo de todas as cores, mas desejava que todos fossem iguais, claro, a ele. Índio Poti sonhava com um tal Mefístoles e achava que Tupã não estava com nada. Derrubou o chefe da tribo, colocando laxante no fermentado de mandioca real. "Quem vive cagando, não pode governar direito" ou "Cagar e governar, ou um ou outro", dizia ele. Indicou Catriti (ou aquele que faz trocas) para o posto e se auto-denominou Pajé absoluto da taba. Poti acreditava que uma história bem montada podia dar a ele um poder inimaginável. Juntou puta, vagabundo, escravidão, ódio e medo dentro de um saco e foi pregar que Poti podia tudo, mas só Poti. E o que não podia era porque não existia. Poti pregava o polígamismo, mas tinha sua própria Iracema, Poti pregava a humildade, mas tinha suas moedinhas na costura da rede. Só tinha uma coisa que Poti não podia mudar, Poti era bonito, mas era manco. Um dia cansado, resolver cansar a todos, organizou uma fila e um por um todos os índios levaram uma marretada no osso da perna direita, pois Poti era de esquerda. Em dois dias Poti fez com que todos mancassem e mudou o nome da tribo de Ratuaua (Aqueles que andam direito) para "Maratuaua'De" (aqueles que mancam da perna direita e aquele que manca da perna esquerda). Poti nunca chorou, nem nunca brochou, na verdade, Poti nunca falhou. Dois anos depois do caso do laxante, Poti se entediou e trocou a tribo toda por um par tamancos especiais vindo da França que alinhava seus pés. E assim Poti descobriu que jogar com direita e esquerda ao mesmo tempo era bom. Nesta época, Poti completou 10 anos.